sexta-feira, setembro 9

O PLANETA DOS MACACOS INTELIGENTES



A superinteligência dos cinemas está longe da realidade, mas há exemplos surpreendentes de inteligência vinda dos grande símios

* Por Marco Túlio Pires

No filme Planeta dos Macacos: A origem, cientistas conseguem fazer com que grandes símios (chimpanzés, gorilas, orangotangos e bonobos) fiquem superinteligentes por meio de um vírus. O resultado está bem longe da realidade, mas não faltam exemplos de símios capazes de surpreender pelo grau de inteligência que demonstram.

Alguns símios conseguem se comunicar pela linguagem dos sinais, tanto com seres humanos como entre si. Podem aprender a usar chaves, abrir fechaduras e procurar comida usando ferramentas. E há até os que sabem usar computador, celulares e rádios. "Eles podem contar até 10 ou mais se você ensinar a eles", explica Pedro Ynterian, presidente do Great Ape Project, organização internacional presente em diversos países, incluindo o Brasil.

Negociação — Os santuários dedicados à preservação de símios estão cheios de casos interessantes sobre sua inteligência. No Great Ape Project, um chimpanzé chamado Guga, de 12 anos de idade, certa vez roubou um cadeado de uma tratadora. De acordo com os cuidadores, Guga sabia muito bem que chaves e cadeados eram objetos valorizados pelos humanos naquele ambiente. O cuidador pediu os objetos de volta, mas Guga se fez de desentendido. A partir daí, homem e chimpanzé iniciaram um processo de negociação. Algumas sementes de jatobá foram apresentadas a Guga, um objeto apreciado pelo animal. Guga não deu a mínima. O cuidador apelou para um refrigerante de dois litros. Deu certo. Guga devolveu o cadeado e foi dividir a bebida com seu grupo, mostrando refinada habilidade política.

No livro Anthropology & Law (Berghahn Books, 2006), o antropólogo James Donovan relata uma passagem com a chimpanzé Washoe (veja lista abaixo). Uma das tratadoras da chimpanzé estava grávida e faltou ao trabalho por várias semanas após ter perdido o bebê. Washoe passou a ignorar a cuidadora, para mostrar que estava ofendida com a ausência. A funcionária decidiu contar o que aconteceu usando a linguagem dos sinais: "meu bebê morreu". Washoe encarou a cuidadora, depois baixou os olhos. Finalmente, olhou nos olhos da funcionária e sinalizou "choro", tocando a bochecha e percorrendo com o dedo o caminho que uma lágrima faria — chimpanzés não conseguem derramar lágrimas.

Para Ynterian, os símios são como crianças que pararam de se desenvolver aos 5 anos de idade. "A falta da linguagem escrita e falada não permite que eles transmitam os conhecimentos de geração em geração, e de indivíduo a indivíduo, como os seres humanos modernos", afirma. "Temos que pensar que o Homo sapiens começou a falar e transmitir conhecimento intensamente alguns milhares de anos atrás. Durante dezenas de milhares de anos seu desenvolvimento foi devagar, como no caso dos chimpanzés".

Confira três dos símios mais inteligentes da história:


A pioneira

Nome: Washoe
Espécie: Chimpanzé
Destaque: Primeiro animal não humano a aprender a língua dos sinais. Aprendeu 350 palavras.

Washoe foi o primeiro animal não humano que aprendeu a se comunicar usando a língua americana de sinais, utilizada por surdos e mudos. Nascida em 1965, em algum ponto do oeste da África, foi capturada pela força aérea americana para pesquisas no programa espacial, mas acabou sendo criada como uma criança humana pelo casal Allen e Beatrix Gardner, a partir de 1967, como parte de um projeto linguístico na Universidade de Nevada (EUA).

Com cinco anos, Washoe se mudou para a Universidade de Olklahoma e ficou sob os cuidados da família Foutses. Nesse período, a chimpanzé aprendeu 350 palavras da língua americana de sinais. Para que os pesquisadores considerassem que ela memorizou uma palavra, ela tinha que utilizá-la espontaneamente e com aplicação correta durante 14 dias consecutivos.Washoe morreu no dia 30 de outubro de 2007 com 42 anos.

A mais proficiente

Nome: Koko
Espécie: Gorila
Destaque: Consegue entender mais de 1.000 sinais baseados na língua americana de sinais e 2.000 palavras em inglês

Koko nasceu no zoológico de São Francisco em 1971. De acordo com Francine Patterson, presidente da The Gorilla Foundation, a gorila é um dos animais mais proficientes na linguagem humana. Treinada desde o primeiro ano de vida, Koko consegue entender mais de 1.000 sinais baseados na língua americana de sinais e 2.000 palavras em inglês falado.

Koko é um dos poucos animais não humanos que mantém outros animais de estimação. Ao longo dos anos, a gorila já cuidou de vários gatos. Francine relata que no segundo semestre de 1984, Koko pediu um gato. A pesquisadora afirma que ela cuidava do animal como se fosse um bebê gorila. Koko, hoje com 40 anos, vive na cidade de Woodside, no estado da Califórnia, EUA.

A celebridade

Nome: 
Kanzi
Espécie: Bonobo
Destaque: Consegue utilizar computadores para se comunicar e já apareceu na revista Time, na National Geographic e até no show da apresentadora americana Oprah Winfrey

Kanzi é um bonobo de 29 anos capaz de se comunicar com humanos por meio de um computador e que entende 450 palavras em inglês falado. Ele mora no estado de Iowa, EUA, e é parte do Great Ape Trust, um projeto de proteção aos primatas.

Kanzi consegue "falar" ao pressionar um símbolo na tela de um computador que repete a palavra em alto som. O bonobo se tornou uma celebridade no fim da década de 1980, quando os cientistas descobriram suas habilidades para se comunicar. O filho de Kanzi, o pequeno Teco, tem apenas um ano e já segue os passos do pai. Aprendeu a utilizar o computador para se comunicar sem a ajuda de humanos e já brinca até com o iPad.

*Fonte: 
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/o-planeta-dos-macacos-inteligentes



Surgirá um César verdadeiro?
*Por Dr. Pedro A Ynterian

Estamos torcendo intensamente para que isso aconteça. César comandaria a revolução necessária, que daria fim ao sofrimento e à exploração dos grandes símios, e, por extensão, de todos os animais. Ver cair as grades dos zoológicos, abrir-se as jaulas dos centros de tortura e reprodução dos grandes símios e a destruição dos laboratórios de pesquisa médica, que usam estes seres indefesos para obter drogas que enriquecem grandes corporações. Este e o ideal de todos aqueles que lutam pelos direitos dos grandes primatas e pela libertação animal.
O filme, do diretor inglês Ruppert Wyatt, é de um extraordinário realismo, já que mostra tudo que estamos denunciando anos a fio e desnuda a face brutal, tenebrosa, criminosa dos caçadores de primatas na África, que os levam para zoológicos, laboratórios e centros de reprodução no próprio Estados Unidos, com a cumplicidade de autoridades e a inércia da sociedade.
Naquele mesmo país, outros cidadãos com outra mente conseguiram realizar esta obra em forma de filme, que é um retrato atual, real e cru do que o Homo sapiens é capaz de fazer com seres que ele chega a dominar.
César é um chimpanzé que evoluiu rapidamente e conseguiu alcançar o grande divisor de água entre os chimpanzés e os humanos: conseguir falar, o que lhe permitiu aprender e conduzir seus companheiros a sacudir-se das cadeias e tomar conta, durante um breve tempo, da ponte de San Francisco, famosa no mundo. César poderá existir algum dia. Hoje é uma utopia. Mas tantas utopias já se converteram em realidade que é possível que isto aconteça. Afinal é a única característica que separa os chimpanzés de nós. Seria a barreira que faltava para superar e juntar realmente nossas espécies.
O final do filme é emblemático. James Franco, o pai adotivo de César, que o criou desde pequeno em sua casa, se encontra com ele, já refugiado na floresta, próximo a San Francisco, rodeado de dezenas de símios, que incluem orangotangos e gorilas, e lhe pede para voltar para a casa com ele. César se aproxima de seu pai e lhe sussurra ao ouvido: “já estou em minha casa …”. Isso reflete a verdade de todas as espécies, uma verdade que teve seu conceito mudado para nossa conveniência: o mundo é de todos e eles têm tanto direito como nós a viver onde e como desejam. Esperamos que o César futuro verdadeiro,  nos substitua algum dia nesta luta que travamos por eles. Este César será o genuíno Presidente do Projeto GAP.
*Dr. Pedro A Ynterian é presidente do Projeto GAP e colunista da ANDA.


SAIBA MAIS

Direitos dos Grandes Primatas

Microbiologista e empresário, o cubano naturalizado brasileiro Pedro A. Ynterian chegou ao país há mais de 30 anos e sempre foi um admirador de animais, em especial dos primatas.
Sua vida mudou completamente em 1999, quando comprou em um criadouro comercial Guga, um bebê chimpanzé de 3 meses de idade, com a ideia de criá-lo no apartamento que morava em São Paulo. Em pouco tempo ele percebeu que ter um chimpanzé como pet não fazia o menor sentido e esse foi o primeiro passo para a montagem do primeiro Santuário dos Grandes Primatas no Brasil, localizado em Sorocaba.
O resultado foi o grande envolvimento na questão de proteção e defesa dos direitos dos grandes primatas e a filiação ao movimento internacional GAP – Great Ape Protection. As atividades de denúncia, resgate de animais vítimas de maus-tratos e divulgação de informações ganharam muita notoriedade e desde setembro de 2008 o Brasil foi eleito como sede do Projeto GAP Internacional, tendo Dr. Pedro como seu presidente.
No Brasil o GAP tem quatro santuários afiliados, entre os quais o de Sorocaba, que juntos abrigam mais de 80 chimpanzés, entre outros animais resgatados de maus-tratos em circos, zoológicos e outras atividades comerciais.

 Fonte: ANDA

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