segunda-feira, novembro 28

Nova raça no metrô de Moscou


BICHOS - JAIME SPITZCOVSKY

Vira-latas em busca de comida cumprem rotina de descer nas paradas que os levam até seus alvos
Entre a multidão que diariamente abarrota vagões do metrô de Moscou, serpeiam cães vira-latas. Uns, em busca de comida, cumprem rotina de descer nas paradas que os levam a locais onde abocanham o alvo com mais facilidade. Outros adotaram a entrada da estação como lar e exercem a função de vigilância, ao impedir o acesso de outros animais e até mesmo de bêbados.
Um desses vigilantes foi morto a facadas por russa que levava o cão de estimação e recusou-se a mudar de rumo por conta dos latidos de Maltchik (menino, em russo), vira-lata preto que transformou uma entrada da estação em seu território. O animal assassinado virou estátua de bronze, paga por um grupo de admiradores, e hoje adorna o local.
A autora do absurdo ataque foi presa, julgada e submetida a tratamento psiquiátrico por um ano. O ato sanguinário gerou indignação em vários cantos de Moscou, metrópole famosa pela atitude amigável com os companheiros de quatro patas e pela tradição de vira-latas vagando na "ulitza" (rua, no idioma de Pushkin). A famosa literatura russa já menciona cachorros de rua em páginas escritas no século 19.
Os cães usuários de metrô constituem uma categoria à parte. São admirados pela sagacidade e devoção ao convívio com humanos. Estimativas apontam cerca de 500 animais vivendo em estações e 20 deles usuários de vagões como meio de transporte. Ganharam até mesmo um site para fãs postarem vídeos e fotos (www.metrodog.ru).
Quando conheci a história, surpreendi-me com o fato de ter morado quatro anos em Moscou, como correspondente desta Folha, e, usuário frequente do metrô, nunca ter tido o prazer de compartilhar o banco com um cão. Matei a charada mais tarde. Vivi lá em meados dos anos 1990, exatamente na era da desintegração da União Soviética.
O fenômeno dos cães num dos metrôs mais famosos do mundo, por sua extensão e beleza, explodiu sobretudo a partir dos primeiros passos do capitalismo pós-soviético.
A sociedade mergulhou numa impressionante desorganização, agravada pelas oscilações do então presidente Boris Yeltsin, ponta-de-lança da destruição da URSS, mas com pouco talento para liderar um processo de reconstrução.
Na turbulência socioeconômica, os cães também pagaram um preço. Aumentou a frequência de abandonos. Muitos animais se viram na rua e alguns, mais tarde, encontraram no transporte coletivo subterrâneo o caminho para encontrar comida. Aguardam na plataforma, adentram o vagão ao lado dos humanos e, caso haja lugar vago, se aninham para uma leve soneca.
Nos últimos anos, a economia russa se aprumou. Escassez soviética e turbulência ieltinista ficaram para trás, e a oferta de comida para os vira-latas aumentou. Especialistas mergulharam no estudo desses improváveis e argutos usuários de metrô. Estaríamos diante do surgimento de uma nova raça, especializada em usar escadas rolantes e ouvir os avisos do condutor do trem?
Fonte: Folha de São Paulo

Nota do Blog: Que exemplo de respeito aos animais,hein?Concordo com o colununista: acho que estamos diante de uma "nova raça".Incrivelmente esperta, não?Achei na internet algumas fotos para ilustrar este belo relato.
Um descanso no metrô mais bonito do mundo!

Estátua de Maltchik
Cena comovente!




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