sexta-feira, março 30

MEMÓRIAS DE UM BURRO CHAMADO JORGE

Jorge:"Graças a humanos que trabalharam pra burro eu estou salvo"

TRABALHANDO PRA BURRO
Sempre ouvi esta expressão... Acho que vocês também.
Porém nunca vi ninguém trabalhar para um burro, pelo contrário, sempre vi os burros trabalharem para os humanos. Eu mesmo vivi minha vida inteira nesta lida. Foram anos difíceis até não conseguir mais ficar em pé. Cai num valão e ali fiquei...
Na vida existem dois tipos de degraça: há desgraça  desgraça e desgraça para mudar.
Felizmente, a desgraça para mim foi a segunda. Um moço que é guarda de um condomínio ao lado daquele valão, me ajudou. Puxou minha cabeça para fora da água quando eu já ia desfalecer  e pediu socorro para muita gente. Me acomodaram melhor. A febre, a dor e a tonteira não permitiam que me levantasse. Olha que tentei...Fiquei ali no sol...De repente apareceu um veterinário e pensei “adeus vida”. Por sorte era o  vet. Márcio. Ele é grande parceiro do pessoal do paraíso dos cavalos, uma turma contra o  chicote.  Fui recolhido! Cheguei aqui e fui direto para o banho. Começou uma agitação onde só ouvia: me dá a pata, o remédio, limpa ali, ajeita aqui, segura ele, dá o remédio para dor ... e por aí foi a confusão. Eu parecia um boneco virando de um lado para o outro. Uma moça agarrada no telefone falava sem parar com o vet Chico. Dizia: tá com febre, já medi, tá machucado, não fica em pé, tu tá chegando?  Foi um chacoalhar sem fim. Dali a pouco chegou o Chico. Tava tudo bem, até que vieram com injeção. Coloquei as orelhas para trás e pensei, “vai ser agora que dou um coice nesta gente”. Porém, não estava bem e deixei por isso mesmo...
De vez em quando me dava uma tonteira e eu  caía de cara no chão. No mesmo instante eu ouvia um grito:
- O Jorge caiu!
 Não sei bem porque eles corriam na minha direção e me levantavam, limpavam  meu focinho, me colocavam  numa “tal talha”.  Disse em burrez :
 - Ajudem o Jorge. Daqui a pouco eu levanto ...
Ninguém entendeu minha língua. E continuaram ali, o pobre  Jorge caído continuava caído...
Hoje já estou mais forte, sem febre. Minha cabeça está funcionando melhor (coisa de velho) foi aí que entendi que o  Jorge sou eu! Pela primeira vez na vida vi uma pessoa trabalhar pra burro.
A Márcia está trabalhando pra burro... 
Só podia ser a moça dos olhos da cor do céu e, como Céu no coração. Ganho papinha porque meus dentes são escassos.
Tem desgraça que vem para o Bem...
Bendito valão!”

História enviada pela ONG CHICOTE NUNCA MAIS
http://chicotenuncamais.blogspot.com

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