segunda-feira, abril 23

Se você mora no litoral, leia com atenção!



*Bichos - Sílvia Corrêa
Eles estão chegando
Pinguim é ave, mas não come milho. E, se você achar um deles na praia, evite colocá-lo no gelo 

UMA HORDA de visitantes já está a caminho das praias brasileiras. São os pinguins-de-magalhães  os que vivem mais perto do país, dentre as muitas espécies de pinguins. A partir deste mês de abril, eles pegam carona na corrente marítima de mesmo nome e seguem para o norte atrás de cardumes e de temperaturas mais amenas.
Incidentes de percurso trazem alguns deles ao nosso litoral. E nós, que crescemos acreditando que pinguins vivem em áreas congeladas, imediatamente colocamos as pobres criaturas em caixas de isopor com cubos de gelo. É o tiro de misericórdia: a maioria morre exatamente por erro nos primeiros socorros.
Pinguins não vivem no gelo. Das 17 espécies existentes hoje, só duas se limitam a áreas congeladas - o pinguim imperador (aquele do documentário "A Marcha dos Pinguins") e o pinguim de adélia. Os outros 15 tipos vivem nas ilhas subantárticas e nas costas de Chile, Argentina, Austrália, Nova Zelândia, países da África e nas Ilhas Galápagos - que ficam a 1.000 km da costa do Equador, com águas cuja temperatura chega a 28 ºC (bem mais quente, portanto, que o gelo).
Além disso, pinguins são animais gregários, que precisam e que gostam de viver em grupo. Conforme a espécie, as colônias chegam a 60 mil indivíduos. Isso significa que, se um deles veio parar na areia, sozinho, certamente está com algum problema. O mais comum é que ele tenha se perdido ou tenha encontrado uma mancha de óleo - o que, infelizmente, ocorre cada vez mais.
As aves que se perdem são, em geral, jovens. Sozinhas, elas têm dificuldade de caçar. Sem comida, não conseguem manter o metabolismo e a temperatura do corpo.
Vale o mesmo para os animais que se sujam de óleo. Com as peninhas grudadas, eles perdem a capacidade de manter a impermeabilidade e a temperatura ideal do corpo - o que é fundamental para quem vive 80% do tempo no mar.
Nos dois casos, portanto, os pinguins que aparecem nas praias estão hipotérmicos - com a temperatura mais baixa do que o ideal. Aí, lá vamos nós e colocamos as pobres aves numa caixa com gelo, levando a hipotermia a níveis mortais.
O correto, então, para quem achar um pinguim na areia, é oferecer conforto e um pouco de calor - nada de estufa, enrolá-lo numa toalha fofa já é mais do que o suficiente.
Mesmo que ele esteja sujo de óleo, não dê banho - a lavagem é estressante e só deve ser feita dias após o resgate, com os parâmetros vitais normalizados (nível de glicose, frequência cardíaca, temperatura etc.).
Por fim, não o alimente - pinguim é ave, mas não come milho. O melhor é encaminhar o bicho a um zoológico ou a um centro de reabilitação de animais marinhos.
Antes de tudo isso, cuidado ao se aproximar: eles toleram bem os humanos, mas, quando se sentem acuados, bicam forte e batem com as asas. O estrago é inacreditável. 

*Fonte: Folha de São Paulo

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