quinta-feira, abril 12

DESABAFO CONTRA O SENSACIONALISMO E A DESINFORMAÇÃO!




*Por Joice Peruzzi
O tema para essa coluna não era para ser esse, mas frente aos fatos ocorridos, me vi obrigada a compartilhar minha opinião, embasada nem tanto no meu conhecimento técnico em comportamento animal (para isso, veja meu texto anterior), mas mais nos quase 6 anos dentro da faculdade de veterinária da UFRGS.
A agressividade é inerente a qualquer espécie animal, seja ela por defesa, medo, dor, disputa, etc. Mês passado falei da agressividade canina e da polêmica das raças como o pitbull, mas esse mês nos deparamos com uma situação de agressividade brutal, covarde e descabida por parte de um ser humano, contra um pitbull.
O incidente ocorreu na minha escola de formação e tenho muito orgulho de ter me formado lá. Orgulho da excelente formação acadêmica e da possibilidade de trabalhar diretamente com o que a gente gosta ainda na faculdade. Quantas vezes eu já fui atacada dentro do hospital veterinário? Várias. Por cães e gatos assustados, com dor, que viam na agressão a única forma de mostrar: “eu não estou gostando disso”. Por sorte nunca foi nenhum acidente grave, mas colegas meus passaram por situações complicadas e levaram mordidas bem graves, mas em nenhum momento ninguém sequer cogitou a hipótese de machucar esses animais, muito menos de chamar algum segurança armado para ajudar...esse não era o trabalho deles.
Animais soltos na faculdade? Sim, sempre, até porque muitos são abandonados ali ou nas redondezas, como a minha cadela, que foi resgatada de lá. Eles latem para estranhos? Latem às vezes, é a forma de comunicação deles. Ah, mas a cadela era um pitbull ! E daí? Se fosse um vira-lata, um pastor alemão ou um labrador, tudo bem? Isso é preconceito! É como antigamente dizerem que matar um negro não tinha o mesmo valor judicial que matar um branco! A cadela não tinha movimentação perfeita em uma das patas traseiras, estava na companhia de sua dona no local que a abrigou por tanto tempo antes de ser adotada. Ela acabou sendo alvejada no local onde ocorreu toda a recuperação após seu abandono!
Não, ela não estava na guia e de focinheira, como pede a lei (ok, o espaço é público, mas era um feriado e o hospital estava fechado), mas isso não dá livre arbítrio para que ela seja atacada. Ou o simples fato de alguém não seguir a lei deve ser motivo para sua morte? E mesmo que ela tenha de fato atacado o vigilante, como ele disse, ela estava na presença da tutora, há poucos metros dela e nenhum vigilante deveria usar sua arma contra um animal dentro de uma faculdade de veterinária. E o motivo disso tudo? O sensacionalismo em torno da raça! Uma mídia sem nenhum embasamento que larga desinformação aos quatro ventos e faz com que uma pessoa sem instrução acredite piamente no que está assistindo/lendo.

*Médica Veterinária Homeopata CRMV-RS 10379
Comportamento de Cães e Gatos
(51)97266557
www.comportapet.com.br
NOTA DO BLOG:
A dra. Joice Peruzzi  é colaboradora do Blog  e publica uma coluna mensalmente. Acesse nosso arquivo,  dia 27 de fevereiro, e leia  a coluna “Por trás do cão, sempre há o dono” onde a dra. Joice analisa a questão comportamental  dos  rotulados “cães agressivos”.



NA MÍDIA
E para comprovar o sensacionalismo e a desinformação do assunto na mídia, mencionado pela dra. Joice, veja o texto a seguir :

PELA EXTINÇÃO DOS PITBULLS
*David Coimbra
Você não pode criar um crocodilo em casa.
Nem um leão, um tigre, uma pantera, qualquer um desses grandes felinos.
Você não pode ter um urso de estimação, um lobo, uma serpente ou um gorila.
Você não pode ter esses animais em casa, muito menos sair com eles pela rua.
Por quê?
Porque são feras e, como todas as feras, imprevisíveis, capazes de atacar pessoas e feri-las.
Um pitbull é uma fera. Bastaria que uma única criança tivesse sido morta por um deles para justificar sua eliminação. Uma só. Mas o que acontece é muito mais grave. Praticamente todos os meses são publicadas notícias sobre crianças atacadas e, não raro, dilaceradas até morrer por esses bichos. Está provado que é um animal que não pode conviver com seres humanos.
Mas o pitbull, como qualquer cão, não pode viver sozinho, no mato, por exemplo. Trata-se de um animal "inventado" por seres humanos, que só consegue sobreviver entre humanos. Logo, os seres humanos são responsáveis por eles. Os pitbulls deveriam ser extintos caridosamente, através de esterilização. Mas sua circulação pelas ruas tem de ser proibida já. Antes que mais pessoas sejam vitimadas.
*Jornalista do Grupo RBS, texto publicado em seu blog, na página eletrônica do Jornal Zero hora, no dia 10/04

*Morte de pitbull gera protesto contra preconceito em relação a cães de raça

Depois de gerar comoção nas redes sociais, a morte de uma cadela da raça pitbull com um tiro disparado por um vigilante dentro do pátio da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) motivou estudantes do curso a organizarem um protesto na frente da instituição na próxima segunda-feira.

A morte do animal ocorreu no início da tarde de sexta-feira. A cadela Artêmis foi alvejada com um tiro na cabeça por um segurança da empresa Rudder, que presta serviço à universidade. Depois de ser ferida, a cadela foi socorrida pelos estudantes, sendo levada para o bloco cirúrgico do hospital veterinário. Apesar do atendimento imediato, ela não resistiu aos ferimentos.

— Ela era dócil. Ele atirou apenas por achar que todo o pitbull é violento — desabafa Mariana Santos, 28 anos, estudante de Veterinária e dona de Artêmis.

A universitária conta que a cadela tinha dois anos de idade e foi adotada por ela após ser abandonada no hospital pelos antigos donos. Com sequelas de um atropelamento, o animal passou meses em tratamento na instituição até ser levado para casa pela estudante:

— Ela se criou ali com outros cães e muitas pessoas dali da faculdade, por isso era muito sociável. Eu a levava com frequência para o hospital para fazer fisioterapia.

Conforme Mariana, o incidente ocorreu após a jovem e o namorado dela chegarem ao local para buscar uma amiga. Artêmis ficou brincando no pátio com outra cadela de propriedade da amiga, onde ficam outros cães atendidos pela instituição, a cerca de seis metros do namorado de Mariana:

— Foi então que surgiu o segurança. A cachorrinha menor começou a latir e a Artêmis acabou imitando, latindo também. Então, o segurança veio em direção e atirou. Meu namorado ainda gritou "não", mas o cara mesmo assim atirou.

Questionada sobre o fato de a pitbull estar solta no momento do incidente, Mariana justifica que todos alunos e professores a conheciam e costumavam brincar com ela. A universitária informou que o animal estava com coleira e próximo ao seu namorado.

— Ela obedecia. Quando a gente chamava, ela vinha. Não havia motivo para atirar. O vigia que atirou não trabalhava antes lá, acho que era plantonista — disse ela.

O caso será investigado pela 15ª Delegacia da Polícia Civil. Conforme o delegado Luiz Fernando Martins Oliveira, um inquérito deverá apurar as circunstâncias do disparo:

— Tem de ver como tudo o aconteceu, ver as razões que levaram o segurança a atirar. Se estava ou não se defendendo de uma ameaça real contra ele ou outras pessoas.

Para localizar o segurança, Zero Hora entrou em contato na manhã deste sábado com a matriz da empresa Rudder. Por telefone, a reportagem foi informada de que informações sobre o ocorrido só poderão ser repassadas a partir de segunda-feira.
*FONTE: JORNAL ZERO HORA dia 09/04




8 comentários:

  1. Essa foto de uma cadela castanha é ela??

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    1. Olá. Não, esta é uma foto retirada da internet. No site da ZH você encontra foto da Artêmis.
      Um abraço

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  2. Excelente texto da dra. Joice Peruzzi, parabéns!

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  3. Mas na maioria das vezes o fato de alguém irresponsável não estar cumprindo uma lei, que é pra todos, é motivo sim pra morte de outros animais e de pessoas. E claro que um vira lata, um pastor alemão ou um labrador latem, avançam e mordem também, mas nenhum deles tem a mordida com a potência de um pitbull. Com certeza tu, melhor do que eu deve saber disso. Amo os animais. Odeio quem os maltrata. Mas assim como os cães, também somos animais e temos instintos. Chamar a reação de uma pessoa (mesmo que armada, afinal de contas não sei de mais nada que pare um ataque de cães de grande porte)que acha que vai ser atacada por um pitbull de agressividade brutal, covarde e descabida.... também acho sensacionalismo.

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    1. Márcia, qualquer cão de porte médio ou grande tem condições de causar injúrias muito graves e até matar um ser humano. Há alguns anos o Dobermann passou pelo mesmo processo e até hoje algumas falácias sobre a raça ainda são ditas.
      Isso me leva a afirmar que foi toda a publicidade negativa do pitbull que levou a essa fatalidade. E mesmo que o vigia afirme que tenha sido agredido, até então só sabemos que ela latiu para ele e o latido em cães pode ter significados variados (medo, alerta, alegria, brincadeira, correção). Nós que amamos os animais devemos lutar contra a desinformação vinculada na imprensa.
      E volto a afirmar que nenhum animal deveria ser morto a tiros dentro de um hospital veterinário e que qualquer vigia, permanente ou eventual, deve ter um treinamento específico para que isso não se repita.
      E finalizando, acredito que o uso indiscriminado de uma arma de fogo é, sim, um ato de covardia e brutalidade.

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  4. Será que se faz teste psicotécnico para ser admitido numa empresa de Segurança?
    Ou será que revólver na cintura e dedo no gatilho é prova de competência?

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    1. Você tem razão. O que me deixa mais perplexa nessa história toda é que um "profissional" que está ali para proteger as pessoas, atira primeiro e pergunta depois...E se ele tivesse errado o tiro e atingido alguém?

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