Apartheid canino
*Por Jaime Spitzcovsky- Folha de São Paulo
Racismo, infelizmente, não conhece fronteiras, e o
vírus da intolerância deixa seu rastro também no mundo das relações com nossos
"pets". Mostra sua face ao fazer com que cães e gatos de pelagem
negra enfrentem maior dificuldade na adoção.
Não encontrei pesquisas ou levantamentos para
alicerçar o diagnóstico, mas diversos ativistas de direitos de animais, no
Brasil e no exterior, corroboram a constatação.
Recentemente, o alarme soou na mídia norte-americana.
Do digital Huffington Post à revista "Time", passando pelo vetusto
"Washington Post", escancarou-se o preconceito batizado de
"síndrome do cachorro negro".
As reportagens lembraram os estereótipos dos vilões
de histórias e filmes com personagens caninos de pelagem escura, como
dobermanns ou rottweilers. E mencionaram as bruxas muitas vezes acompanhadas
por um gato preto e toda a superstição que envolve o animal.
O ataque contra o "apartheid canino"
partiu, nos Estados Unidos, de diversas entidades de resgate de cães e gatos
abandonados. Em Washington, a ativista Pam Townsend publicou um livro em
homenagem a cães de pelagem negra, com intuito de turbinar a mobilização e
arrecadar recursos.
Um site especializado em fotografia de
"pets" para adoção, o secondchance.org, alinhou dicas de como
caprichar na hora de produzir a foto de um "black dog", afastando-o
da imagem, por exemplo, de vilões de desenhos animados. Vale, no esforço de
marketing, mexer na iluminação e exagerar em adereços como bandanas e coleiras.
Quando li sobre as iniciativas, parei para pensar
na minha matilha, arco-íris de tons caninos do branco reluzente dos samoiedas
às mechas ruivas e manchas tigradas dos vira-latas. Na hora de escolher o
Boris, dogue alemão de apenas um ano e fartos 65 kg, não hesitei ao optar pela
pelagem mais escura. Esbanja elegância e beleza.
Afinal, "black is beautiful" também no
mundo dos "pets".
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Jaime
Spitzcovsky, jornalista, foi correspondente
da Folha em Moscou e em Pequim. Fala sobre sobre animais de
estimação. Escreve aos domingos, a cada duas semanas, na revista 'sãopaulo'.
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