segunda-feira, agosto 13

"BLACK IS BEAUTIFUL"


Apartheid canino
*Por Jaime Spitzcovsky- Folha de São Paulo

Racismo, infelizmente, não conhece fronteiras, e o vírus da intolerância deixa seu rastro também no mundo das relações com nossos "pets". Mostra sua face ao fazer com que cães e gatos de pelagem negra enfrentem maior dificuldade na adoção.
Não encontrei pesquisas ou levantamentos para alicerçar o diagnóstico, mas diversos ativistas de direitos de animais, no Brasil e no exterior, corroboram a constatação.
Recentemente, o alarme soou na mídia norte-americana. Do digital Huffington Post à revista "Time", passando pelo vetusto "Washington Post", escancarou-se o preconceito batizado de "síndrome do cachorro negro".
As reportagens lembraram os estereótipos dos vilões de histórias e filmes com personagens caninos de pelagem escura, como dobermanns ou rottweilers. E mencionaram as bruxas muitas vezes acompanhadas por um gato preto e toda a superstição que envolve o animal.
O ataque contra o "apartheid canino" partiu, nos Estados Unidos, de diversas entidades de resgate de cães e gatos abandonados. Em Washington, a ativista Pam Townsend publicou um livro em homenagem a cães de pelagem negra, com intuito de turbinar a mobilização e arrecadar recursos.
Um site especializado em fotografia de "pets" para adoção, o secondchance.org, alinhou dicas de como caprichar na hora de produzir a foto de um "black dog", afastando-o da imagem, por exemplo, de vilões de desenhos animados. Vale, no esforço de marketing, mexer na iluminação e exagerar em adereços como bandanas e coleiras.
Quando li sobre as iniciativas, parei para pensar na minha matilha, arco-íris de tons caninos do branco reluzente dos samoiedas às mechas ruivas e manchas tigradas dos vira-latas. Na hora de escolher o Boris, dogue alemão de apenas um ano e fartos 65 kg, não hesitei ao optar pela pelagem mais escura. Esbanja elegância e beleza.
Afinal, "black is beautiful" também no mundo dos "pets".


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Jaime Spitzcovsky, jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e em Pequim. Fala sobre sobre animais de estimação. Escreve aos domingos, a cada duas semanas, na revista 'sãopaulo'.

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