sexta-feira, setembro 28

O detetive e o cocô


*Por Jaime Spitzcovsky
Quem, com toda razão, se horroriza ao avistar cocô de cachorro abandonado pela rua pode alimentar mais uma esperança para testemunhar punição aos responsáveis por enxovalhar o passeio público.
O estilo CSI chegou a um condomínio nos Estados Unidos, que anunciou a montagem de um banco de DNA da população canina local, por meio de amostra das fezes.
Assim, será possível identificar o autor do crime caso uma porção de excrementos seja encontrada em plena rua ou calçada.
Moradores do bucólico condomínio The Pointe, em Austin (Texas), receberam um e-mail com o funambulesco pedido de entregar amostra dos dejetos de seu animal. A Associação de Proprietários de Residências argumentava que, nas áreas comuns, marcas deixadas por cães e não recolhidas por donos displicentes produziam odor nada agradável. E que várias medidas haviam fracassado na tentativa de impor um dos mais básicos conceitos para a convivência entre cachorros e humanos.
Alguns moradores reagiram à maneira do Tea Party, movimento de extrema direita e célebre por proclamar horror ao que chama de "interferência indevida do governo na vida privada".
O "arquivo" de cocô de cachorros foi chamado de "medida muito radical". Responsáveis pela manutenção da limpeza no condomínio retorquiram. Sustentaram que ações anteriores não haviam produzido resultados e que recebiam incessantes reclamações sobre "caca" alheia.
A polêmica desembarcou na TV. Sisudos âncoras de um telejornal da rede CBS trocaram comentários sobre o combate à falta de educação de donos de "pets". Um dos jornalistas confessou, ao vivo, ter sido vítima do descaso durante um passeio. Havia pisado num montinho. Em seguida, anunciaram a reportagem sobre o banco de DNA -sem esconder o ar de alívio e de aprovação ao esquema detetivesco para identificar a origem do cocô e os donos relapsos.
Ilustração Tiago Elcerdo

*Colunista da Folha de São Paulo

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