*Por Jaime Spitzcovsky
Quem, com toda razão, se horroriza ao avistar cocô
de cachorro abandonado pela rua pode alimentar mais uma esperança para
testemunhar punição aos responsáveis por enxovalhar o passeio público.
O estilo CSI chegou a um condomínio nos Estados
Unidos, que anunciou a montagem de um banco de DNA da população canina local,
por meio de amostra das fezes.
Assim, será possível identificar o autor do crime
caso uma porção de excrementos seja encontrada em plena rua ou calçada.
Moradores do bucólico condomínio The Pointe, em
Austin (Texas), receberam um e-mail com o funambulesco pedido de entregar
amostra dos dejetos de seu animal. A Associação de Proprietários de Residências
argumentava que, nas áreas comuns, marcas deixadas por cães e não recolhidas
por donos displicentes produziam odor nada agradável. E que várias medidas
haviam fracassado na tentativa de impor um dos mais básicos conceitos para a
convivência entre cachorros e humanos.
Alguns moradores reagiram à maneira do Tea Party,
movimento de extrema direita e célebre por proclamar horror ao que chama de
"interferência indevida do governo na vida privada".
O "arquivo" de cocô de cachorros foi
chamado de "medida muito radical". Responsáveis pela manutenção da
limpeza no condomínio retorquiram. Sustentaram que ações anteriores não haviam
produzido resultados e que recebiam incessantes reclamações sobre
"caca" alheia.
A polêmica desembarcou na TV. Sisudos âncoras de um
telejornal da rede CBS trocaram comentários sobre o combate à falta de educação
de donos de "pets". Um dos jornalistas confessou, ao vivo, ter sido
vítima do descaso durante um passeio. Havia pisado num montinho. Em seguida,
anunciaram a reportagem sobre o banco de DNA -sem esconder o ar de alívio e de
aprovação ao esquema detetivesco para identificar a origem do cocô e os donos
relapsos.
Ilustração
Tiago Elcerdo
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*Colunista da Folha de São Paulo
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