sexta-feira, junho 14

Pato-mergulhão



Descrito pela primeira vez em 1817 pelo naturalista e ornitólogo francês Louis Jean Pierre Vieillot, o pato-mergulhão é um dos animais mais emblemáticos e raros do Cerrado. 

Seu bico longo e serrilhado ajuda nos mergulhos de até 30 segundos onde captura peixes como o lambari. Vive em rios e riachos de águas límpidas, quase sempre com corredeiras e margeados por vegetação nativa. Por essas características, é reconhecida como espécie "bioindicadora". Ou seja, sua presença revela um ótimo estado de preservação dos ambientes. 

Originalmente encontrado em muitas regiões no Brasil, Paraguai e Argentina, nas últimas décadas o pato-mergulhão tem sido registrado apenasem alguns pontos de Minas Gerais, Goiás e Tocantins. Poucos indivíduos foram observados há mais de uma década no Paraguai e na Argentina, onde não se conhece o tamanho das populações.

Também chamado de patão e pato-mergulhador, a espécie é extremamente sensível à degradação e perda de ambientes naturais. Entre as maiores ameaças a sua sobrevivência estão a destruição de matas ciliares e a degradação das margens e leitos de cursos d’água, uso de agrotóxicos em pastagens e lavouras (pois são carregados para os cursos d’água), mineração, barragens para geração de energia e outros fins e atividades esportivas ou turísticas mal planejadas. 

As mudanças impostas ao Código Florestal Brasileiro também ameaçam a espécie, pois a lei permite agora menos vegetação nativa nas margens dos rios. 

Ou seja, sem água limpa, sem alimento e sem ações rápidas e efetivas por parte do poder público e da sociedade, o pato-mergulhão estará fadado a desaparecer dos rios brasileiros.

Parente dos cisnes e das marrecas, o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) é uma espécie dependente de áreas úmidas do Cerrado, especialmente os rios montanhosos e de corredeiras e está entre as 10 aves aquáticas mais ameaçadas do mundo, criticamente ameaçada de extinção nos níveis nacional e global. Além disso, é uma das raras espécies especializadas em rios de águas rápidas e límpidas, onde permanecem em extensos territórios por todo o ano. 

Possui um longo penacho e se alimenta de pequenos peixes e invertebrados aquáticos, capturados quando ele mergulha. Quando não estão se alimentando, casais e indivíduos podem ser vistos descansando sobre pedras no meio dos rios. 

Colocam até oito ovos branco-amarelados em ninhos feitos em cavidades tanto em troncos de árvores, em fendas em paredões rochosos ou barrancos de terra nas beiras de rios e córregos. A fêmea incuba por cerca de 30 dias e os patinhos permanecem com os pais por cerca de 6 meses, quando alcançam o tamanho dos adultos e se dispersam. 

Estima-se que existam apenas 250 indivíduos distribuídos na natureza de Minas Gerais (Patrocínio e Serra da Canastra), Tocantins (Jalapão) e Goiás (Chapada dos Veadeiros). Nessa última região, há registros desde os anos 1950. 

Originalmente, sua área de distribuição era muito maior, incluindo o centro-sul do Brasil e partes do Paraguai e da Argentina. A região da Serra da Canastra se destaca como área-chave para a conservação da espécie, pois abriga a sua maior e mais bem conhecida população, graças a estudos intensivos que têm sido conduzidos, principalmente pelo Instituto Terra Brasilis. 

As maiores ameaças para a espécie são a destruição de seu hábitat, especialmente pela poluição e assoreamento de rios, causados principalmente pela expansão desordenada da agropecuária, pela degradação das bacias e erosão dos solos. Hidrelétricas são outro fator relevante de ameaça, pois o barramento dos rios altera drasticamente seu ambiente. O turismo de aventura nos rios onde a espécie ocorre pode também representar um risco para o pato-mergulhão.
* Por Lívia Vanucci Lins (Instituto Terra Brasilis), Luís Fábio Silveira (Museu de Zoologia da USP) e Gislaine Disconzi (coordenadora do Censo Neotropical de Aves Aquáticas no Brasil)

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