Como vídeos
“fofos” podem condenar este animal à extinção
Estudo
associa a proliferação na internet de vídeos domésticos feitos com lóris,
primatas ameaçados de extinção, ao aumento da exposição da espécie ao tráfico
*Por Vanessa Barbosa
Vídeos de gatos, cachorros e
outros animais de
estimação são um hit na internet. Mas quando a atração passa a ser uma espécie
exótica ameaçada de extinção, a imagem “fofa” pode ser letal. É o que indica um
novo estudo publicado na revista científica Plos One, que associa a proliferação de vídeos domésticos
feitos com animais em risco
de extinção ao aumento da exposição dessas espécies ao
comércio ilegal.
Exemplo disso é o vídeo publicado no Youtube em 2009 que mostra um
“lóris-preguiçoso” (Nycticebus), chamado Sonya, recebendo carinhos na
barriga. O vídeo, que baliza o estudo, foi compartilhado centenas de vezes,
reproduzido em sites e replicado até por celebridades em redes sociais.
De acordo com o estudo, a fama online tem um lado sombrio: ela amplia a
percepção pública dessa espécie de primata em extinção como pets de estimação
ideais, o que promove ainda mais o comércio ilegal – ainda que de maneira
indireta.
Outros vídeos similares com lóris-preguiçosos, que se tornaram virais na
rede, também ajudam a introduzir esses primatas a uma grande parte da sociedade
que normalmente não entraria em contato com eles.
A pesquisa ressalta que apesar do Youtube ser,
em parte, policiado pelo público – é possível, por exemplo, denunciar vídeos
como "abuso animal" –, nenhuma opção está disponível para os
telespectadores denunciarem materiais que retratem animais criados ilegalmente.
“Com essa capacidade de atingir o público, os recursos da Web 2.0, como
o YouTube estão entre os meios mais poderosos para aumentar a conscientização
da conservação. [...] Ao mesmo tempo, as imagens apresentadas pelos meios de
comunicação podem ter efeitos nocivos se os espectadores não sabem o contexto”,
diz o texto.
E o contexto em questão é brutal. Os primatas são transportados por
centenas de quilômetros de seus habitats naturais na China, Vietnã, Laos e
Camboja para serem vendido por menos de U$15, em feira clandestinas. Eles
são transportados em condições precárias, que podem afetá-los fisicamente, e
têm os dentes arrancados para se tornarem aptos para posse.
Os pesquisadores analisaram a repercussão do vídeo ao longo de 33 meses.
Nos meses iniciais, um quarto dos comentaristas manifestaram interesse em ter
um lóris como um animal de estimação, mas a medida que a fatos sobre sua
conservação e ecologia se tornaram mais disseminados na mídia e por outros
comentaristas, este interesse caiu significativamente, sublinha a pesquisa.
*Revista Exame
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