Urso polar
“neurótico” é eutanasiado em zoológico de Nova York
*Por
Patricia Tai
Como
muitos antes dele, ele foi privado da liberdade na vida selvagem para ser
obrigado a viver em uma cidade grande; e também como tantos outros, ele
descobriu que isso não é algo fácil. Mas para Gus, um urso polar nascido em um
zoológico em 1985, os desafios foram ainda maiores. As informações são da
Mother Nature Network.
Em seu
sexto ano no Zoo do Central Park em Nova York, que pertence à rede da Wildlife
Conservation Society (WCS), Gus começou a demonstrar sinais de
descontentamento, o que levou os tratadores a contratarem um especialista em
psicologia animal para determinar qual era o seu problema.
Gus
começou a nadar formando repetitivas figuras de “oito” na piscina, e fazia isso
mais e mais, obsessivamente, sem parar. Ele deveria estar vivendo no Ártico, e
a vida de confinamento em um zoológico não parecia estar de acordo com a sua
natureza.
“Ele não
está indo ao encontro dos nossos critérios de qualidade de vida”, disse Tim
Desmond, terapeuta do urso. “Nós estamos tentando aperfeiçoar o seu estilo de
vida”, acrescentou.
Sendo taxado
de neurótico, o urso acabou se tornando um “mascote” dos nova-iorquinos que se
consideravam angustiados também com as suas vidas. Por esse motivo, tornou-se a
“sensação” do Central Park Zoo, ficou conhecido e recebia muitas visitas.
Desmond
criou um “programa de enriquecimento” para Gus, que incluía brinquedos,
quebra-cabeças, reforço positivo, e um recinto novo de confinamento, “melhor
desenhado para um urso polar na cidade”. O plano levou a alguma melhora. Ele e
sua parceira, a fêmea Ida, por um tempo pareceram estar bem.
Ida morreu
em 2011 de uma doença no fígado aos 25 anos, e segundo o New York Times, “Gus
tornou-se apático, passou a andar cabisbaixo e a nadar pouco, obviamente
confuso e grandemente perturbado pelo desaparecimento de sua amiga”.Então o
urso passou a apresentar dificuldade para se alimentar e recentemente, sob o
efeito de anestesia para um procedimento médico, veterinários da WCS
descobriram um enorme e inoperável tumor em sua tireóide. A decisão de
eutanasiá-lo foi tomada.
Ele estava
com 27 anos; a expectativa média de vida para ursos polares machos em reservas
e santuários é de 20,7 anos, de acordo com a Associação de Zoos e Aquários
americana.
“Gus foi
um ícone do Central Park Zoo e uma grande fonte de alegria para nossos
visitantes e funcionários”, disse Jim Breheny, Vice Presidente executivo da WCS
para Zoos e Aquários.
“Ele foi
um importante embaixador para a sua espécie, chamando a atenção para os
problemas que estes ursos enfrentam na natureza devido às mudanças climáticas”,
continuou.
Nota
da redação: Gus
foi mais uma vítima da ação humana. Se os outros de sua espécie estão morrendo
na região polar, ora devido ao aquecimento global que leva à perda de seu
habitat e escassez de alimentos, ora pela caça, Gus não soube o que é ser um
urso polar selvagem, ou seja, não viveu a sua própria natureza. Ele nasceu em
um zoológico, e os seus chamados “problemas comportamentais” nada mais eram que
reflexos da vida fora de seu contexto, de seu confinamento e do distanciamento
do meio em que deveria viver, inclusive do clima.
Vale
dizer que os ursos polares ameaçados de extinção não precisam de estandartes ou
de “embaixadores”, mas de medidas urgentes contra a aceleração
do derretimento das calotas polares e contra a caça.
Nenhum
animal não-humano é “neurótico”. Esse é um atributo humano. Gus era um animal
infeliz, algo também causado pelas condições em que foi colocado por imposição
humana, e sua infelicidade culminou em doença. Talvez o zoológico tenha optado
pela eutanásia pois um urso doente e em idade avançada não seria
mais interessante para entretenimento humano. Pobre Gus, poderia ter
recebido mais dignidade, tentativas de tratamento, ser cuidado até o fim.
* Fonte: ANDA

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