quinta-feira, janeiro 16

"A MULHER SOLITÁRIA DA FLORESTA"


Durante quase duas décadas, ela desenvolveu uma campanha apaixonada para salvar da extinção os gorilas da montanha nos montes Virunga, na África Oriental. A sua dedicação determinada a fez entrar em conflito tanto com os caçadores furtivos como com o Governo do Ruanda.

Dian Fossey estava longe de ser uma pessoa incontroversa. No entanto, os seus amigos mais íntimos consideravam-na uma mulher de bom coração e muito dedicada e chamavam-lhe a Rainha dos Macacos. Devido em grande parte aos seus esforços, os gorilas da montanha na África Oriental deixaram de ser uma espécie ameaçada. No Parque Nacional dos Vulcões, no Ruanda, vivem hoje pelo menos 20 famílias de gorilas, enquanto, nos meados da década de 70, havia apenas metade desse número.

Graças às suas pesquisas sobre o modo de vida e comportamento destes animais, Dian derrubou o mito, inspirado por Hollywood, do temível e feroz King Kong. Começando por observar de uma distância prudente os dóceis gigantes cujos focinhos parecem feitos de couro, ela acabou por se misturar com eles, imitando os seus grunhidos e adquirindo a sua linguagem corporal. Aprendeu assim, por exemplo, a apertar os braços para significar amizade e a abaixar-se para nunca parecer mais alta que o chefe do grupo.

Com o tempo, foi aceita pelos animais quase como um deles, e sentava-se durante horas no seu grupo, mordiscando o aipo-bravo de que ramo gostavam e sendo mesmo autorizada a coçá-los e a catá-los.

O seu interesse por África foi despertado por um jovem admirador rodesiano, mas ela achou que o casamento era um preço demasiado alto por um bilhete para o Continente Negro. Começou então a poupar dinheiro, e em 1963 partiu para África.

Na Tanzânia conheceu o célebre antropólogo Louis Leakey, que lhe perguntou o que queria ainda ver. Ao ser informado de que a sua maior ambição era ver os gorilas da montanha da região vulcânica de Virunga, Leakey quis saber se o interesse que ela sentia era como espectadora ou como jornalista. Uns dias depois, ela via os seus primeiros gorilas. Ao deixar a África, Dian não tinha dúvidas de que regressaria para passar a sua vida com os animais. Quatro anos depois, com um subsídio da National Geographic Society, ela criava a Estação de Investigação de Karisoke.

Os nativos chamavam-lhe nyiramachabelli, "a mulher solitária da floresta". Avançou muito nos seus estudos sobre os animais e deve-se-lhe grande ajuda em salvá-los da extinção. Os seus motivos e os seus métodos continuam, porém, sujeitos a discussões. O seu relacionamento extremamente pessoal com os gorilas da montanha ultrapassou não só o interesse científico como a afeição normal que a maioria das pessoas sente pelos animais. O seu amor pelos gorilas contrastava nitidamente com o ódio implacável que nutria pelos caçadores furtivos, que destruíam o habitat e matavam os animais: perseguia-os inflexivelmente, confiscando-lhes as armas e até chicoteando-os pessoalmente.

Em breve entrava em conflito não só com os caçadores furtivos, mas também com as autoridades do Ruanda, que esperavam abrir ao turismo o espetacular parque vulcânico, ao que Dian se opunha firmemente. Os seus gorilas não eram exemplares de jardim zoológico, e ela ameaçava atirar sobre qualquer turista que se aproximasse da sua estação. Esta dedicação inabalável acabou por arranjar-lhe muitos inimigos - entre eles, sem dúvida, o assassino desconhecido que a matou brutalmente em Dezembro de 1985.

Dian foi sepultada ao lado de Digit, o seu gorila predileto, no cemitério que ela mesma fez para aqueles que eram a sua única família!


*Hoje Dian Fossey faria 82 anos.

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