*Por Luciano Carlos Cunha
Especismo é dar uma consideração desfavorável
injusta a indivíduos que não pertencem a uma ou mais espécies. É um termo para
se fazer uma analogia com o racismo. O especismo acontece toda vez que se dá
uma consideração desfavorável a membro(s) de determinada(s) espécie(s) quando
esse desfavorecimento é injusto.
O especismo acontece independentemente…
(1) Do grau de discriminação: assim como o racismo,
o especismo não acontece somente quando se desconsidera totalmente o bem de um
indivíduo, mas toda vez que a consideração que se dá a ele é menor do que seria
justo.
(2) De se causar sofrimento: assim como é possível
uma posição ser racista sem causar sofrimento às vítimas, é possível uma
posição ser especista e não causar sofrimento às vítimas (causar outros tipos
de danos injustamente, como por exemplo a morte ou impedir algum benefício que
a vítima desfrutaria).
(3) De se causar morte: assim como é possível uma
posição ser racista sem necessariamente matar as vítimas, é possível uma
posição ser especista e não causar a morte das vítimas (causar outros tipos de
danos injustamente, por exemplo).
(4) De se estar a escravizar, explorar, usar o
indivíduo em questão: assim como o racismo, o especismo acontece quando membros
de determinada(s) espécie(s) estão, injustamente, em uma situação pior do que
membros de outra(s). Isso é assim independentemente da causa dessa situação ser
a escravatura, exploração, uso, ou não. É, obviamente, racista dizer “não temos
dever de socorrer os membros desta(s) raça(s) porque os males que os atingem
não são fruto da escravidão, e sim, de acontecimentos naturais como doenças e
morte por inanição”. Da mesma maneira, é especista afirmar “não temos dever de
socorrer os membros desta(s) espécie(s) porque os males que os atingem não são
fruto da escravidão, e sim, de acontecimentos naturais como doenças e morte por
inanição”.
(5) Da espécie escolhida como critério de
favorecimento/desfavorecimento: assim como o racismo não acontece apenas quando
se defende que os membros da raça x devem ser favorecidos injustamente, o
especismo não acontece apenas quando se favorece injustamente os membros de
determinada espécie (por exemplo, humanos), mas sim, quando se favorece
injustamente a membros de determinada(s) espécie(s) sobre membros de outra, não
importando quais espécies.
(6) Da razão oferecida como critério de
discriminação ser o pertencimento à própria espécie ou alguma outra razão: o
racismo não acontece somente quando se dá como motivo para a discriminação o
fato de alguém pertencer à determinada raça. Acontece, por exemplo, também
quando se diz “membros da raça x devem ser discriminados porque possuem a
característica y”. Da mesma maneira, o especismo não acontece somente quando se
dá como motivo para a discriminação o fato de alguém pertencer à determinada
espécie. Acontece, por exemplo, quando se diz: “membros da espécie x devem ser
discriminados porque possuem a característica y”. Assim sendo, afirmar que
“estamos justificados a discriminar os animais não humanos porque eles são
menos inteligentes” é também especismo, assim como seria racismo dizer “estamos
justificados a discriminar os membros da raça x porque eles são menos
inteligentes”. Especismo indireto também é especismo, porque em ambos os casos
está-se a desfavorecer injustamente a alguém que pertence a determina espécie.
(7) Da importância dos interesses que estão em
conflito: assim como o racismo, o especismo não acontece somente quando se
favorece o interesse banal de membros de um grupo em detrimento de um interesse
vital de membros de outro grupo. Essas são formas mais extremas de racismo e
especismo (incrivelmente, essa forma mais extrema de especismo é praticada
todos os dias pela maioria de nós, que consome produtos de origem animal, já
que causa sofrimento intenso e morte a indivíduos de um grupo com vistas a
fomentar o interesse por um tipo de comida específica não necessário a membros
de outro). Contudo, o especismo acontece também quando se dá consideração em
graus diferentes para interesses que são semelhantes.
*Luciano Carlos Cunha | lucianoshred@gmail.com
Doutorando em Filosofia (Ética) no Centro de
Filosofia e Ciências Humanas da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina,
mestre em Ética e Filosofia Política pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), licenciado em Educação Artística com habilitação em música pela
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), colaborador da revista
eletrônica Pensata Animal, colunista do site ANDA e autor do
blog Especismo Não!
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