segunda-feira, abril 20

COMO OS BEBÊS


Cães usam olhar para despertar nosso amor
Pesquisa aponta que ligação entre cachorros e seus donos é formada a partir do mesmo processo que une mães humanas a seus filhos pequenos

Se você acha absurdo esse negócio de tratar cachorro como filho, talvez seja hora de rever seus conceitos. Uma nova pesquisa sugere que o elo entre um cão e seu dono é forjado, em parte, graças ao mesmo mecanismo bioquímico que fortalece a união entre as mães humanas e seus bebês.

Trata-se de um sistema orquestrado pela oxitocina, hormônio liberado pelo cérebro dos mamíferos em situações como o parto, a amamentação, o cuidado com a prole e as relações sexuais. Sabe- se que, na nossa espécie, trocas de olhares entre genitoras e bebês criam um “círculo virtuoso” de produção de oxitocina. Os níveis da substância aumentam no organismo dos recém-nascidos, levando-os a se apegar às mamães; nelas, por sua vez, a oxitocina também sobe, incentivando ainda mais os cuidados com o nenê.

Foi mais ou menos isso o que a equipe de Takefumi Kikusui, da Universidade Azabu, no Japão, demonstrou ao estudar 30 donos de cães e seus animais. Os resultados estão em artigo na revista Science. Gatos não têm mecanismo similar.

Já havia pistas de que algo especial ocorre quando um cão e seu dono se olham. Uma das peculiaridades dos cachorros domésticos é que, diferentemente de quase todas as demais espécies de animais, eles buscam o contato visual com humanos e seguem naturalmente o olhar das pessoas, a exemplo do que a maioria dos bebês da nossa espécie faz desde o nascimento. Outros mamíferos, como os lobos (parentes mais próximos dos cachorros na natureza), costumam interpretar o “olho no olho” como sinal de desafio, e não como um convite à interação social.

SOBREVIVÊNCIA DOS MAIS BONZINHOS

Os pesquisadores decidiram incluir no estudo também lobos criados como animais domésticos. Kikusui recolheu duas amostras de urina de canídeos e humanos, antes e depois de um período durante o qual os bichos e seus donos ficaram interagindo. A urina serviu para estimar quanta oxitocina estava no organismo.

O resultado: donos e cães que buscavam contato visual uns com os outros tiveram um grande aumento dos níveis do hormônio – de cerca de 400% e 150%, respectivamente. A frequência de olhares mostrou ter relação direta com esse resultado, que não apareceu no caso dos lobos.

Em análise da pesquisa escrita para a Science, Evan MacLean e Brian Hare, especialistas em comportamento animal da Universidade Duke (EUA), dizem que os dados fortalecem a ideia de uma “sobrevivência dos mais bonzinhos” como ponto central da domesticação dos cães no passado remoto. Os primeiros humanos teriam selecionado os ancestrais dos cães domésticos com base em sua docilidade. Tal característica está ligada a traços mais infantis, que incluem tanto detalhes físicos – as orelhas caídas e olhos maiores, inexistentes entre lobos adultos – quanto comportamentais, como a menor agressividade.

Se isso for verdade, faz todo o sentido que os cães tenham “hackeado” os sistemas emocionais humanos ligados ao cuidado com a prole, já que eles tendem a se comportar como filhotes e a se parecer com eles mesmo depois de adultos. Isso os ajuda a conquistar os corações de seus amos, mas também faz bastante bem para os seres humanos, cuja qualidade de vida costuma aumentar quando há um cachorro em casa.


Fonte: Jornal Zero Hora


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