ALGUÉM DUVIDA?
A maioria de nós já conviveu ou
convive com cães e gatos e precisa de pouco convencimento de que estes seres
amados são indivíduos únicos com sentimentos.
No entanto, geralmente temos uma
visão turva sobre os animais selvagens, ou os que são destinados à serem comida
no nosso prato.
Jonathan Balcombe, biólogo e diretor de sensibilidade animal no Humane Society Institute for Science and Policy, uma ONG baseada nos EUA, possui um interesse especial em felicidade animal.
Jonathan Balcombe, biólogo e diretor de sensibilidade animal no Humane Society Institute for Science and Policy, uma ONG baseada nos EUA, possui um interesse especial em felicidade animal.
Segundo ele, não são apenas cachorros que expressam alegria.
Cabras adoram carinho e até se inclinam para receber mais. Ovelhas abanam o
rabo em aprovação quando são acariciadas. Aves, como as galinhas, adoram fazer
pausas para tomar banhos de sol, afofando suas penas e esticando os braços para
maximizar a área de superfície disponível para os raios quentes.
“Observando
esses animais perseguindo os seus desejos e necessidades, me lembro de que eles
são indivíduos com intenções e preferências. Suas vidas importam para eles. O
seu desejo por recompensas faz parte da sua senciência – a capacidade de sofrer
ou sentir prazer ou felicidade”, explica Balcombe.
Evidências
científicas
Uma vez
consideradas totalmente absurdas, hoje emoções animais são uma fonte legítima
de pesquisa. Embora os seres humanos não possam saber ao certo o que um animal
está sentindo (como não podem saber com certeza o que um outro ser humano está
sentindo), podem observar mudanças no comportamento e fisiologia dos bichos, e
inferir seus sentimentos.
A evidência é
ainda mais atraente quando descobrimos que essas mudanças
refletem as próprias mudanças vistas em nossos corpos quando
somos expostos a estímulos semelhantes.
Por exemplo,
na Universidade de Viena (Áustria), uma pesquisa ensinou cães a selecionarem
símbolos e imagens em uma tela de computador tocando-os com o nariz. O estudo
foi usado para mostrar que os cães, como nós, olham primeiro para o lado
esquerdo de um rosto humano, onde os cérebros processam mais emoção. Assim,
eles começam uma leitura rápida dos nossos humores e intenções. Isso tudo acontece
em uma fração de segundo e, como nós, os cães provavelmente não sabem que estão
fazendo isso.
·
Estudos
preliminares também mostram que centros de recompensa do cérebro acendem quando os cães veem um sinal com a mão que
normalmente é seguido por algo bom (um biscoito), mas não acendem para um sinal
neutro. Da mesma forma, dentro de uma máquina de ressonância magnética, quando
os cães sentiram cinco cheiros (o seu próprio, de humanos familiares, de
humanos estranhos, de cães familiares e de cães estranhos), seus cérebros
registraram uma resposta mais forte ao humano familiar. Parece que a noção de
que o cão é “o melhor amigo do homem” é uma faca de dois gumes.
·
Depressão
animal
E animais não
sentem só alegria e felicidade, mas tristeza também.
É bem
conhecido que quando as pessoas se sentem deprimidas, são mais propensas a ter
uma visão pessimista da vida. Parece que não estamos sozinhos nessa tendência.
Em um estudo
conduzido pela Universidade Newcastle, da Inglaterra, estorninhos europeus
foram alojados durante dez dias tanto em recintos socialmente enriquecidos ou
sozinhos em pequenas gaiolas.
Ambos os
conjuntos de aves aprenderam a forragear arrancando tampas de pratos, cada um
contendo uma minhoca. Os pássaros logo aprenderam que pratos com tampas brancas
continham vermes saborosos, enquanto pratos com tampas cinzas escuras abrigavam
vermes com sabor ruim. Aves de ambos os grupos logo pararam de virar as tampas
escuras.
Mas quando os
pesquisadores começaram a apresentar pratos ambíguos, com tampas com tons mais
claros de cinza, eles descobriram que as aves em um ambiente social rico eram
mais propensas do que as emocionalmente empobrecidas a provar o verme dentro.
Além disso, as aves de ambiente social bom tornavam-se marcadamente pessimistas
– não abrindo as tampas ambíguas – se eram passadas para alojamentos
solitários.
Em uma série
de estudos, ratos, porcos, cabras e, curiosamente, até abelhas mostraram a
mesma resposta de otimismo/pessimismo (os cientistas a chamam de “viés
cognitivo”) para resultados incertos. Parece que a vida de um animal pode ir
bem ou mal, e isso influi no estado interno do indivíduo.
Emoções
marinhas
Hoje, a
maioria dos cientistas concorda que todos os animais vertebrados – mamíferos,
aves, répteis, anfíbios e peixes – são, em graus variados, sencientes.
Mas essa
perspectiva nem sempre foi popular.
Historicamente,
por exemplo, a vida do mar raramente aspirava preocupação quando se tratava de
sua capacidade de sofrer. Porém, experimentos meticulosos realizados em trutas
uma década atrás concluíram definitivamente que peixes podem sentir dor.
Há agora
também apoio científico para a senciência em pelo menos alguns invertebrados.
Na pesquisa da bióloga canadense Jennifer Mather, polvos mostraram curiosidade,
brincabilidade e personalidade.
·
E em um
estudo liderado por Robert Elwood na Universidade Queens Belfast (Irlanda do
Norte), camarões passaram mais tempo acariciando sua antena machucada, a menos
que tivessem recebido um anestésico.
Voltando aos
peixes, eles são animais altamente evoluídos. Comportam-se mostrando medo,
emoção, raiva, prazer e ansiedade. Seus cérebros produzem os mesmos compostos
que acompanham as emoções em mamíferos. Demora 48 horas para que os níveis de
hormônio dos peixes voltem ao normal após eles serem manipulados de maneira
áspera, como serem pegos por pescadores e colocados em pequenos baldes.
Em recifes de coral, as interações entre
peixes-limpadores e seus clientes são ricas em consciência e emoção.
Limpadores fazem propaganda de seu negócio. Clientes fazem fila pelo serviço de
limpeza. Ambas as partes se beneficiam: os limpadores conseguem comida, e os
clientes ficam sem parasitas e outras sujeiras indesejáveis.
Este não é um
arranjo à toa. Os clientes têm seus limpadores favoritos, outros peixes
observam essas interações para escolher quem eles acham que limpa bem e alguns
limpadores até tratam melhor o cliente (sem morder sua pele, por exemplo) se há
um chefe por perto.
Hoje, os
cientistas estão fazendo perguntas sobre a vida dos animais como nunca fizeram
antes, diz Blacombe. Conforme as suas conclusões emergem, ganhamos uma
perspectiva mais esclarecida das diversas emoções animais. “Isso me dá otimismo
de que as expressões negligentes e abusivas da relação homem-animal irão
evoluir através da compreensão, na direção da compaixão”, afirma o biólogo.
Fonte:LiveScience
Nenhum comentário:
Postar um comentário