quarta-feira, março 23

Dá a patinha, Dumbo!

O que se questiona é a necessidade de ensinar os bichos a executarem ações pouco naturais para eles.
* Por Vivien Lando

DÁ A PATINHA, Rex. Uma frase tão comum de se escutar no relacionamento entre homens e cães pode ganhar novas circunstâncias. O zootécnico Alexandre Rossi, especialista em adestramento animal, viu-se às voltas com um elefante de zoológico que necessitava de manicure, para evitar o encravamento de unhas, o qual pode causar enormes infecções.
A fim de ensinar o paciente a apoiar as patas num suporte específico, Rossi acorrentou um pneu numa árvore e, a cada vez que o elefante se aproximava do mesmo, jogava-lhe pedaços de melancia ou bananas.
Acabou fazendo com que o bichão colocasse as patas sobre o pneu já fora das grades e o veterinário pôde fazer o que era necessário sem sustos.
Em outra ocasião, para atrair os hipopótamos de uma lagoa para tratamento dentário, Rossi utilizou um apito. Quando o grandalhão se aproximava do píer, ganhava repolhos (50 por animal!).
O mesmo procedimento pode ser utilizado com a turma doméstica. O veterinário Daniel Svevo, sócio de Rossi na empresa Cão Cidadão, sugere o uso do click para avisar o cachorro ou o gato quando sua atitude é a esperada. Quando um cão puxa muito a coleira durante o passeio, dar broncas ou punições apenas interrompe o comportamento, não o modifica.
Ao notar que ele afrouxa a tensão, o ideal é lhe dar um prêmio, algo que realmente goste -seja petisco, brinquedo ou atenção redobrada. Para que saiba exatamente por qual movimento está sendo recompensado, um estalo sonoro é acionado no momento exato do "acerto".
Ambos os profissionais defendem um adestramento prazeroso, apoiado em reforços positivos. O que se questiona é a necessidade de ensinar os bichos em geral a executarem ações desnecessárias e pouco naturais para eles.
Uma coisa é adequar um espécime selvagem fora da natureza ao necessário tratamento veterinário, sem ter de recorrer à anestesia. Ou instruir um gato a não afiar as garras nos móveis da casa. Outra bem diferente é o mero exercício do poder que o ser humano tanto preza, obrigando os pets a cumprimentar as visitas ou comer de boca fechada -horror que presenciei outro dia numa loja, quando a dona dava biscoitos a seu lhasa apso.

*Colunista da seção BICHOS – Folha de São Paulo

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