segunda-feira, agosto 22

ANIMAIS SÃO A CURA DO SÉCULO XXI?

Uma interação que faz bem à saúde e traz qualidade de vida

Dennis Turner

Entrevista com Dennis Turner, presidente da IAHAIO - Associação Internacional das Organizações para a Interação Homem-Animal e Professor de Veterinária da Universidade de Zurique.


* O senhor defende que os animais domésticos trazem benefícios para a saúde e qualidade de vida do homem. Que tipo de benefícios e como isso é possível?

De várias maneiras. Vamos tomar como exemplo um cidadão comum, quer dizer, alguém que não sofra de uma doença ou deficiência e precise de terapia. Apenas a presença do animal de estimação pode reduzir a pressão sangüínea, o que é uma das justificativas para o alto índice de sobrevivência de donos de animais um ano depois de terem sido vítimas de ataque cardíaco. A outra explicação é óbvia e vale para todos os donos responsáveis de cães interessados em prevenir doenças cardíacas: mais exercício diário por conta das caminhadas com o animal pela vizinhança. Donos de animais de estimação geralmente têm baixo nível de colesterol, um dos fatores que pode levar a um ataque do coração. Pesquisas médicas de larga escala na Austrália concluíram que donos de animais de estimação se consultam com menor frequência com clínicos gerais e requerem menos medicação do que as pessoas sem animal de estimação. Já publiquei estudos que tratam de como o gato pode reduzir sentimentos de depressão, solidão e ansiedade - sentimentos que todos nós temos mais cedo ou mais tarde sem estar clinicamente doente. Animais de companhia também se mostraram bastante prestativos para crianças tanto em casa quanto na escola. Eles aumentam a autoestima da criança, melhoram sua integração na sala de aula, incentivam o contato social com outras crianças e aumentam sua vontade de aprender. E não podemos nos esquecer da parcela da população industrializada que mais cresce: os idosos. Muitos estudos têm demonstrado a importância e os benefícios do animal de companhia na terceira idade. Quanto aos grupos de pessoas com necessidades especiais que podem receber terapia assistida por animal ou participar de atividade assistida por animal (AAA), temos estudos que comprovam a utilidade - e, na maioria dos casos, o sucesso - do animal como co-terapeuta: doentes psíquicos que não se comunicam, crianças hiperativas ou agressivas, portadores da síndrome de Down, pacientes de Alzheimer, pacientes com problemas neurológicos e deficientes físicos.

* Então, se alguém quiser baixar seu nível de colesterol, a única coisa que tem a fazer é ir a uma loja, comprar um cachorro e alimentá-lo todos os dias?

Não é simples assim. Nem estamos sugerindo que a companhia - e a terapia - de animais são a solução para todos os problemas. Ter cachorro, gato, passarinhos ou um aquário em casa, na sala de espera de uma clínica ou no hospital não vai produzir os efeitos benéficos desejados - à exceção de reduzir a pressão sangüínea de quem observa os animais, incluindo o peixe nadando no aquário. As teorias que atraem mais a atenção são de biofilia, ligação afetiva e apoio social. Antes de qualquer benefício tangível, uma relação social verdadeira - prefiro usar parceria, no caso de um animal de estimação e seu dono - deve se desenvolver. As relações normalmente começam com a observação do parceiro e depois a interação com ele em diferentes contextos. Quanto mais se aprende sobre o parceiro durante essas interações, melhor se pode atender às vontades e necessidades e maior a afeição e o respeito.

* Até que ponto uma relação homem-animal pode ser considerada saudável para ambos?

Não há um padrão e as relações dependem mais da pessoa do que do animal. Podem ser intensas - o dono faz tudo para e pelo animal - ou quase inexistentes - o dono se limita a alimentá-lo. Muitos proprietários de animais de países industrializados consideram os animais de estimação parte da família e os tratam como tal. Seja como for, relações saudáveis respeitam a dignidade do animal. Uma relação se torna anormal e até patológica quando, por exemplo, há relações sexuais com o animal ou quando se comete qualquer outro tipo de crueldade. Pessoalmente, considero errado apenas alimentar o animal e deixá-lo na rua durante o dia ou à noite. Nem o dono nem o animal se beneficiam desta relação.

* O cachorro pode substituir o psiquiatra ou o antidepressivo?

Minhas pesquisas com donos de gatos demonstram que os animais podem ajudar a tirar uma pessoa de ondas de depressão ou outros humores negativos. Eles não podem nem devem substituir o psiquiatra, o psicoterapeuta, o clínico geral, o terapeuta ocupacional, mas complementar o trabalho destes profissionais oferecendo um método terapêutico adicional. E, se no decorrer da terapia, a dose de medicamento for reduzida, tanto melhor.

* O senhor pode dar exemplos bem-sucedidos de terapia assistida por animais?

Existe agora um número de livros no mercado que oferecem muitos exemplos. Lembro-me do caso de um senhor afásico em um asilo. Ele não havia pronunciado uma palavra por anos até que o lugar adotou a AAT. Primeiro ele falou com os animais - com um gato, em especial - depois com os enfermeiros e finalmente com os outros idosos. Também me recordo da primeira vez em que dei consultoria para um asilo. Selecionei dois gatinhos para morar com os idosos. Sempre via os gatos na cama de uma senhora que estava no estágio final de câncer. Passados alguns meses da sua morte, recebi uma carta da filha me agradecendo por "ter feito valer a pena os últimos meses de vida da mãe, tornando-os mais suportáveis".

* Como os médicos vêem a AAT?

Médicos que atuam em consultórios particulares são mais receptivos ao uso de animais como coterapeutas do que os hospitais e as clínicas. A administração de hospitais e clínicas resiste a tais programas argumentado questões de higiene e barulho. Uma vez informadas de que os animais estão sob supervisão de um veterinário e são bem treinados, instituições permitem a entrada de AAA/AAT para um período de experiência. A partir daí, eles testemunham os efeitos da companhia dos animais não apenas em seus pacientes, mas na equipe e acabam aprovando a continuação do programa. Infelizmente não há estatísticas disponíveis sobre o número de clínicas, hospitais, asilos que dispõe de AAA e AAT. Mas sabemos que de 20 a 30% dos psiquiatras e psicoterapeutas envolvem animais nas suas práticas.

* Qual o papel dos animais em nossa vida? Podemos dizer que eles são a cura do século 21?

Cresci com cachorros e, por conta das minhas inúmeras viagens pelo mundo, tenho apenas dois gatos que são um grande conforto para mim quando estou em casa - são como uma família. O animal de companhia não é "a" cura para todos os problemas, mas eles certamente terão um papel cada vez mais significativo em nossas vidas.


Quem é Dennis Turner?

O suíço-americano Dennis C. Turner tem uma missão quase impossível. Em um mundo em que 2 bilhões de pessoas são classificadas pelo Banco Mundial como miseráveis, o cientista comportamental tenta convencer desde ministros da Saúde de países do Primeiro Mundo até líderes de pequenas comunidades na África do Sul a investir em programas de Terapia Assistida por Animais (AAT). Dennis Turner é um Science Doctor (mais elevada graduação obtida no meio acadêmico) - em Veterinária pela John Hopkins University, nos EUA, autor de diversos livros sobre animais domésticos (seis deles só sobre gatos) e presidente da IAHAIO (Associação Internacional das Organizações para a Interação Homem-Animal), entidade que reúne representantes de mais de 40 países. Como presidente da IAHAIO, ele organiza a cada três anos conferências em várias capitais, que reúnem PhDs do mundo inteiro para divulgar resultados de estudos e experiências em que animais atuam como terapeutas para crianças, delinquentes juvenis, idosos, mulheres com câncer de mama, deficientes e até casais em crise.

Fonte: Arca Brasil

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