ANIMAIS NO MUNDO I
Os animais de rua da Turquia
* Por Regina Becker
Estivemos recentemente em visita à Turquia. Além da
deslumbrante formação geológica distinta em cada região no país, a cultura
milenar enraizada que se manifesta em distintos hábitos e costumes, a rica
gastronomia e a singularidade daquele povo inquieto que não gosta de ficar em
casa à noite e tem nos passeios noturnos uma rotina prazerosa, chamou-nos a
atenção a questão dos animais sem raça definida (os SRD's) que circulam com
dignidade, livres e seguros. Eles são muitos, milhares, espalhados por todo território.
Praças, parques, monumentos históricos e espaços
públicos em geral abrigam animais sadios, bem alimentados que disputam
território, sim, mas não se afugentam à presença do ser humano. Buscam olhares
de admiração e sabem exatamente quem poderão seduzir e obter ora um afago, uma
foto, uma carícia concedida em troca de apetitosa comidinha. Os grupos de
felinos convivem pacificamente entre si e alertam-se somente ao som de cães que
passeiam com seus donos, afinal, esses sim são os estranhos no ambiente. Gatos
sem qualquer demonstração de agressividade mas, como que em código estabelecido
entre si, não permitem nada além do toque, reservando-se a manterem-se em terra
firme; pegá-los nos braços para um ninar é ter a surpresa do um pulo
certeiro e rápido daquele de quem tentar detê-lo.
Os KÖPEKLER (cães) e os KEDILER
(gatos), cujas pronúncias são, respectivamente, kpécler e quedíler, são
respeitados por todos, indistintamente, cidadãos turcos e turistas.
Circulam, caminham e passeiam sem medo. São elementos que compõem a paisagem e
referência da Turquia, ilustrando souvenires e servindo de motivação à
indústria da produção cultural. Mas como tudo não acontece em toque de mágica,
este processo também teve uma origem e um histórico, fruto de um forte movimento
aos animais de rua depreendido há menos de 10 anos pela pressão
popular e dos movimentos organizados em torno de uma mesma causa: defendê-los,
protegê-los, alimentá-los e cuidá-los.
A organização executiva-política das cidades é
composta por “Câmaras”, o que equivaleria, em termos, as nossas prefeituras
locais, porém, elas são definidas de acordo com o número de habitantes de cada
região de tal maneira a permitir que todas as áreas sejam atendidas por seus
representantes eleitos, e não de acordo com os limítrofes territoriais impostos
em antigas convenções. Repasses simbólicos financeiros são concedidos às Ong's,
cujo objetivo é mais o de vínculo do que propriamente o de tutela aos animais
porque são elas, as câmaras, que definem as regras, a observância quanto ao
cumprimento às leis e as sanções. Procedimentos de esterilização e
médicos-veterinários são garantidos às entidades e elas se encarregam da
manutenção dos bichanos contando com o apoio e cooperação da população.
No caso do cães, por exemplo, não existe um número
definido de animais por domicílio, mas se houver duas denúncias a respeito de
um mesmo animal, ele passará a ser controlado pelo “setor de controle
urbano” da “Câmara” e seu proprietário terá que tomar medidas efetivas com
vistas a solucionar a perturbação que este animal está propiciando aos
vizinhos, do contrário, será retirado da família com a qual convive. O que
normalmente acontece é a mudança do local de moradia para outro mais afastado e
que não apresente riscos a nova interveniência por parte do poder público
local, severo, sem dúvida.
Nos centros urbanos e de grande movimentação de
pedestres e transeuntes, no máximo cinco (5) cães podem fazer seus percursos
com seus passeadores ou cuidadores; nos bairros e periferias não existe esta
imposição, onde é permitido circular com grande número sem qualquer
constrangimento. A maior surpresa foi constatar uma espécie de brinco à orelha
dos cães, em parte não sensível dela, onde é introduzido o chip ou registro dos
dados, distinto em cores de acordo com a “Câmara” que exerce a competência
local. Ao invés do chip diretamente no corpo do animal, o governo turco optou
por identificá-lo com estes “brincos”, ali armazenados dados de procedência
(quando o tem), da sua saúde, o nome do responsável, datas das vacinas, da
esterilização, vermifugação etc. A revisão é periódica e previamente agendada
com as organizações.
Crianças são motivadas a participarem e cooperarem
com estas ações e grande parte da ração arrecadada provém das escolas, públicas
e privadas; fortes campanhas ilustrativas estão afixadas em áreas de
publicidade e propaganda; pontos específicos de alimentação de espécie de
caixas suspensas com interior coberto visam a proteção do alimento
evitando o desperdício e os efeitos do tempo somam-se às dezenas distribuídas
com critério; e, o mais importante, o engajamento e a união dos diferentes
movimentos de defesa “hayvan” animal.
País com histórico de guerras e disputas desfralda
ao mundo a bandeira branca pela causa animal: um exemplo a ser seguido! A
Turquia ficará para sempre em nosso coração: deixamos amigos, sentimos o calor
da sua gente e constatamos em ações simples o vislumbrar daquilo que esperamos
um dia atingir e nos orgulhar: animais têm direito à vida digna, saudável,
respeitosa e merecem por parte de todos, poder público e sociedade, a
proteção e o amparo.
Acessem:
Yedikule Hayvan Barinapi, Türkiye Hayvan
Barinak, wwwhaber34.com\ist
No Google: Istanbul 'un Hayvan Barinaklari
* Primeira-dama de Porto Alegre
No Google: Istanbul 'un Hayvan Barinaklari
* Primeira-dama de Porto Alegre
ANIMAIS NO MUNDO II
Turquia tem postos para alimentar
animais de rua
Descarte de animais não depende da condição
econômica de uma nação. Esta triste realidade está diretamente ligada à
inconsciência e falta de respeito ao próximo.
Quando falamos em próximo, não nos referimos
necessariamente aos humanos. Os animais também são nossos próximos, muitas
vezes, até mais que os próprios humanos, com toda sua fidelidade, respeito,
dedicação e amor incondicional. Sim, os animais amam seus donos acima de tudo,
sejam eles dignos de respeito e admiração ou não.
A passos curtos, mas felizmente, as pessoas estão
começando a retribuir a este amor não apenas àqueles cães e gatos domiciliados.
Na Turquia, por exemplo, também é visível e elevado o número de animais
abandonados, porém, eles não estão sós. O poder público e associações de
Proteção dos Animais instalaram no município de Sisli estações de alimentação
que fornecem água e ração.
As instalações foram projetadas especificamente
para permitir que cães e gatos que perambulam pelas ruas possam viver com
o mínimo de dignidade. As estações são supervisionadas regularmente para
garantir a manutenção das condições de saneamento e estão disponíveis durante
24 horas.
A medida vem ao encontro de outras leis, no sentido
de proteger os animais abandonados. Desde 2004, Sisli é obrigado a vaciná-los e
esterilizá-los e a sociedade também dá sua contribuição. Os moradores se revezam
na rotina dos bichos e organizam campanhas de adoção.
Devido ao crescente número de cães e gatos
esterilizados, a situação de abandono em Istambul está diminuindo. Esta é uma
tendência em Porto Alegre e outros tantos municípios que seguirem exemplos bem
sucedidos de Direitos Animais, sejam de países de Primeiro Mundo, sejam de
países menos desenvolvidos. A questão do abandono é universal, mas o desejo de
mudá-la depende de cada um de nós, cidadãos, homens de bem que respeitam seu
próximo.
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