quarta-feira, fevereiro 20

DIETA VEGETARIANA PARA CÃES


 Um debate saudável, uma decisão pessoal

A relação homem/animal existe há pelo menos 12 mil anos. Com o passar dos anos, a intimidade entre eles foi se adaptando a novos hábitos e valores, e, hoje, os animais domésticos são mais “paparicados” pelos seus donos e suscetíveis a mudanças radicais, principalmente na alimentação.

É o caso de pessoas que se tornaram vegetarianas ou veganas e que estão fazendo o mesmo com seus cães. Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, controla a dieta dos dois cachorros com ração vegetariana. “É possível, sim, aplicar uma dieta sem carne em animais onívoros para que eles possam viver mais e melhor. Cabe a nós estimular empresas a apostarem neste segmento (ração vegetariana) que, além de trazer uma série de benefícios à saúde, reduzirá consideravelmente os impactos da criação de animais para consumo no meio ambiente e nas mudanças climáticas.

O ser humano é considerado um onívoro (obtém alimento das fontes animal e vegetal), embora muitos acreditem que o hábito de comer carne esteja mais ligado a uma questão cultural, já que nosso sistema digestório seja mais semelhante ao de herbívoros (capacidade estomacal menor e acidez maior; intestino longo; dentes caninos de tamanho menor; saliva com enzimas digestivas; dentre outras características). Por outro lado, a variedade da flora intestinal da nossa espécie é semelhante a de onívoros, mesmo no caso de pessoas vegetarianas.

O mais famoso cão vegano do mundo foi a SRD Bramble. Ele morreu em 2003, aos 27 anos e 11 meses. Terceiro cão mais longevo registrado pelo Guinness Book, Bramble se alimentava de uma pasta com arroz integral, lentilhas e vegetais orgânicos. Sua dona, a inglesa Anne Heritage, de 52 anos, também era vegana radical.

Este hábito começou nos Estados Unidos, no fim dos anos 1960. Grupos de veganos radicais passaram a considerar natural alimentar bichos de estimação com sua própria dieta, que nada tem a ver com a religião ou ética. Já na Índia, berço das crenças hinduístas abraçadas no Ocidente, cães e gatos não são tratados com cuidados humanos. “Algumas tradições hindus os veem como animais impuros. São maltratados mesmo”, diz Erick Schulz, do Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala, em São Paulo: “A Índia tem veterinário para cavalo e para elefante, mas são raros os veterinários que atendem cães e gatos.” Outra curiosidade: os cães e os gatos naquele país se alimentam de carne à vontade, embora a população de religião hinduísta não. “A cultura hindu respeita o animal como realmente é: se ele é carnívoro, come carne, se não é, não come”, diz Schulz.

A presidente da Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), Izabel Cristina Nascimento, não come carne há mais de 40 anos, porém, não considera razoável impor uma dieta vegetariana a um cão. “O animal tem o dente canino mais acentuado justamente para comer carne”, diz. Da mesma forma, Aulus Cavalieri Carciofi, especialista em Nutrição de Cães e Gatos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é vegetariano há 20 anos. Seus quatro cães, não: “Não como carne porque não quero matar animais, mas para conviver com eles é preciso entendê-los. Se a ideia de permitir a entrada de carne em casa é inaceitável para um vegetariano, que ele tenha um bicho com outros hábitos. Um passarinho, por exemplo”.

Eles precisam de proteína
Antes de transferir a "Filosofia Vegetariana" aos animais, é preciso conversar com um veterinário para saber mais sobre as necessidade proteicas de cães e gatos. Por ser naturalmente carnívoro, o organismo dessas duas espécies metaboliza melhor a proteína animal do que a vegetal, trazendo vantagens, principalmente, ao funcionamento do sistema cardíaco.
Cães com deficiência de proteína podem entrar em catabolismo, ou seja, utilizam a proteína dos próprios músculos para gerar energia, o que pode levá-lo a um estado grave de desnutrição. Nos gatos, a questão é ainda mais séria. Dos músculos de animais, eles aproveitam um aminoácido chamado taurina, essencial durante toda a vida adulta. Sem ele, podem desenvolver cardiomiopatia hipertrófica. A musculatura do coração fica espessa e o músculo precisa fazer esforço extra para bombear o sangue, tornando o processo mais lento e difícil.
Algumas raças de cães, as de grande porte e o cocker, também precisam da taurina na alimentação, pois são propensos a desenvolver cardiomiopatia dilatada, disfunção em que o músculo do coração perde a força de contração para bombear o sangue, que fica acumulado no órgão. A longo prazo, os dois problemas podem levar os bichos à morte.
Hoje, a maioria das rações do mercado tem proteína de soja ou de glúten de milho (ambas vegetais), além da animal. Algumas utilizam ainda proteína de peixe. O que se sabe é que uma alimentação onívora com proteína animal e vegetal promove uma sobrevida de 15% em cães e gatos. Ou seja, só carne também não é bom.
Por isso, especialistas recomendam rações mistas e, além de ossos e guloseimas caninas, algumas frutas e verduras como petiscos. Entre as mais indicadas estão batata, cenoura, banana e mamão. Frutas cítricas devem ser evitadas, já que a mucosa estomacal dos animais é mais sensível e mais suscetível a gastrites.
Fonte: SEDA
Secretaria Especial dos Direitos Animais – Prefeitura de Porto Alegre

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