segunda-feira, agosto 29

Tartaruguinha não é animal de estimação!



*Por Raíssa Bressan
Adotar um animal de estimação é uma grande responsabilidade e por isso devemos saber exatamente que tipo de animal queremos: um companheiro, brincalhão, tranqüilo? Porte grande ou pequeno? Precisa de muito ou pouco espaço?
Por isso, muitas pessoas procuram ter uma tartaruguinha de estimação: não faz barulho, não faz bagunça, não ocupa espaço, não cresce... Mas é isso mesmo? Não. As tartarugas, como qualquer outro animal silvestre (pois sim, apesar de amplamente comercializada ainda é um animal silvestre), têm exigências muito maiores do que pensamos.
Como animais de sangue frio, elas precisam de muito sol para manter seu metabolismo, e não adianta apenas colocá-las numa bacia no sol. O aquário precisa ter um local onde elas fiquem inteiramente fora d’água sempre que quiserem. E uma informação que é passada como verdade pelos vendedores, mas que, de fato, é uma crueldade, é dizer que tartarugas não crescem. Pois crescem, e bastante. O tigre-d’água (Trachemys dorbigni), que é a espécie mais comum encontrada no comércio, pode atingir entre 25 e 30 centímetros de comprimento e pesar cerca de 3 kg. Isso demanda um aquário grande, no qual o animal possa se movimentar com facilidade.
Outro problema é a alimentação. Camarão seco e ração vendidos em supermercados ou lojas não contêm os nutrientes necessários para a boa formação do casco. A má nutrição, aliada a um aquário pequeno, causa atrofias no casco, deixando-o com calosidades, além de uma série de doenças típicas de cativeiro.
Essas dificuldades acabam fazendo com que os donos de tartarugas resolvam soltá-las no primeiro curso d’água que aparecer. Sejam em lagos artificiais de parques municipais ou em rios, lagos ou lagoas naturais, a soltura inadvertida desses animais causa inúmeros problemas, como a superpopulação dos ambientes, competição por alimentação e sítios de reprodução, introdução de espécies que não são nativas da região, e com elas novas doenças, e assim por diante.
Como exemplo, podemos citar o caso dos parques Farroupilha e Moinhos de Vento, na cidade de Porto Alegre. Ambos possuem lagos onde as populações de tartarugas atingiram números altíssimos. E que continuam crescendo pela soltura inadvertida de mais animais. Nestes lagos são freqüentemente encontrados animais vítimas de maus tratos, doentes, ou subnutridos.
Quando assumimos responsabilidade sobre uma vida, torna-se nossa obrigação prover todas as necessidades e o bem-estar do bichinho – por toda a vida dele. Seja um cão, um gato, um passarinho... E com as tartarugas é a mesma coisa. Afinal, bicho não é lixo. Não se dá, nem se abandona.
*Bióloga, pesquisadora do Projeto Chelonia
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2 comentários:

  1. E tem uma coisa extremamente importante. Existem duas espécies comercializadas como "tigre d´agua", uma delas é nacional e a outra é de origem americana, a "tartaruga-de-ouvido-vermelho" ou "tigre d'água americano". Ambas são muito semelhantes, sendo na maioria das vezes distinguidas apenas por uma pequena mancha vermelha nas laterais da cabeça na espécie americana.

    Ambas são proibidas pelo IBAMA de serem mantidas como animais de estimação. A nacional, por motivos óbvios, faz parte da fauna nativa do país. A americana justamente por que muitos proprietários acabam soltando os exemplares em lagos ou rios e introduzindo uma espécie que não é nativa daqui, podendo causar desequilíbrios ecológicos e competição com a espécie nativa.

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