terça-feira, abril 24

A VIDA DOS ANIMAIS


A Semana Santa já passou, mas certamente no ano que vem as deprimentes cenas da FARRO DO BOI acontecerão novamente. Tudo em nome de uma "tradição,cultura". Tradição e cultura da crueldade e da ignorância,óbvio!Este texto retirei do blog da jornalista Elaine Borges, de Florianópolis.Vale a pena ler:

*EM DEFESA DOS ANIMAIS


Embora proibida, a abominável Farra do Boi continua sendo praticada no litoral de Santa Catarina.  Nesta época, sempre lembro ( e já postei aqui) o livro de J.M.Coetzee, A Vida dos Animais (Companhia das Letras). Eis alguns trechos:

 “As pessoas reclamam que tratamos os animais como objetos, mas na verdade tratamos animais como prisioneiros de guerra. Você sabia que quando foram abertos os primeiros zoológicos, os tratadores tinham de proteger os animais dos ataques dos espectadores? Os espectadores sentiam que os animais estavam ali para serem insultados e humilhados, como prisioneiros em uma marcha triunfal. Já promovemos uma guerra contra os animais, que chamamos de caça, embora, na verdade, guerra e caça sejam a mesma coisa... Essa guerra foi travada ao longo de milhões de anos. Só a vencemos definitivamente faz algumas centenas de anos, quando inventamos as armas de fogo. Só quando a vitória foi absoluta é que pudemos nos permitir cultivar a compaixão. Mas a nossa compaixão é muito rarefeita. Por baixo dela existe uma atitude mais primitiva. O prisioneiro de guerra não pertence à nossa tribo. Podemos fazer o que quisermos com ele. Podemos sacrificá-lo aos nossos deuses. Podemos cortar o pescoço, arrancar seu coração, atirá-lo ao fogo. Não existe lei quando se fala de prisioneiros de guerra.”
“Quem diz que a vida importa menos para os animais do que para nós nunca segurou nas mãos um animal que luta pela vida. O ser inteiro do animal se lança nessa luta, sem nenhuma reserva. Quando o senhor - (interlocutor a quem Elizabeth Costello, a personagem do livro, se dirigia (grifo meu) - diz que falta a essa luta uma dimensão de horror intelectual ou imaginativo, eu concordo. Não faz parte do modo de ser do animal experimentar horrores intelectuais: todo o seu ser está na carne viva.”

“Se não o convenci foi porque faltaram às minhas palavras, nesta ocasião, o poder de despertar no senhor a inteireza, a natureza não abstrata e não intelectual do ser animal. É por isso que o incito a ler os poetas que devolvem à linguagem o ser vivo, palpitante; e se os poetas não o comovem, sugiro que caminhe lado a lado com o animal que está sendo empurrado pela rampa na direção do seu carrasco.
O senhor diz que a morte não importa para um animal porque o animal não entende a morte. Isso me lembra um dos filósofos acadêmicos que li para preparar minha palestra de ontem. Foi uma experiência deprimente. Despertou em mim uma reação bastante swiftiana. Se isso é o melhor que a filosofia humana pode oferecer, eu disse a mim mesma, eu preferia ir viver entre cavalos.”
(...) Para mim, um filósofo que diz que a distinção entre humanos e não-humanos depende de você ter a pele branca ou preta, e um filósofo que diz que a distinção entre humanos e não-humanos depende de você saber ou não a diferença entre sujeito e predicado, são muito semelhantes entre si.
“Em geral sou cautelosa quando se trata de excluir alguém. Eu soube de um importante filósofo que simplesmente afirma não estar preparado para filosofar sobre animais com gente que come carne. Não sei se chegaria a esse ponto – francamente não tenho essa coragem -, mas devo confessar que não faria a menor questão de conhecer o cavalheiro cujo livro venho citando. Especificamente, não faria nenhuma questão de me sentar à mesa com ele”.
(...) Minha vida me convenceu de que os limites que encontramos em nossas relações com outros animais refletem não as nossas limitações, como sempre pensamos, mas a visão estreita com que pensamos quem são eles e que tipos de relações podemos ter com eles. “E assim concluo convidando todo mundo que tenha interesse nos direitos dos animais a abrir o coração para os animais à sua volta e descobrir por si mesmos como é fazer amizade com uma pessoa não humana.”

FARRA DO BOI

Proibida por lei, neste ano já foram registradas 93 ocorrências no litoral de Santa Catarina. No ano passado, foram 221 registros, em 2010, 302 bois foram perseguidos, torturados, mortos por essa barbárie praticada em nosso estado.

*http://balaiodesiri.blogspot.com



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